segunda-feira, março 08, 2010
Ana Cristina Cesar
Poeta brasileira nascida no Rio de Janeiro, uma das principais poetas da geração mimeógrafo ou da chamada literatura marginal dos anos 70. Suas primeiras poesias foram publicadas no Suplemento Literário do jornal Tribuna da Imprensa quando tinha apenas sete anos. Criou-se entre Niterói, Copacabana e os jardins do velho Bennet. Esteve um ano em Londres (1968), em intercâmbio, onde trava contato com a literatura inglesa. Na volta deu aulas, traduziu, fez letras, escreveu para revistas e jornais alternativos. Entrou para a Faculdade de Letras da PUC do Rio de Janeiro, aos 19 anos, onde se formou em 1975. Foi professora de inglês e português em colégios de segundo grau e iniciou-se no jornalismo no semanário Opinião. Participou da antologia "26 Poetas Hoje" (1976), organizada por Heloísa Buarque de Holanda, e publicou, pela Funarte, pesquisa sobre literatura e cinema, fez mestrado em comunicação, lançou seus primeiros livros, "Cenas de Abril" (1979) e "Correspondência Completa" (1979), em edições independentes.
Publicou "Luvas de Pelica" (1980), escrito na Inglaterra, e deixou diversas outras obras em prosa ou poesia e em ensaios, entre as quais "A Teus Pés" (1982), "Inéditos e Dispersos" (1985), "Literatura Não É Documento" (1980), "Escritos da Inglaterra" (1988), "Escritos no Rio" (1993) e "Correspondência Incompleta" (1999).
Suicidou-se no Rio de Janeiro, atirando-se do apartamento dos pais, em 1983, aos 31 anos.
Poemas de Ana Cristina César:
Um Beijo
que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor
Fama e Fortuna
Assinei meu nome tantas vezes
e agora viro manchete de jornal.
Corpo dói - linha nevrálgica via
coração. Os vizinhos abaixo
imploram minha expulsão imediata.
Não ouviram o frenesi pianíssimo da chuva
nem a primeira história mesmo de terror:
no Madame Tussaud o assassino esculpia
as vítimas em cera. Virou manchete.
Eu guio um carro. Olho a baía ao longe,
na bruma de néon, e penso em Haia,
Hamburgo, Dover, âncoras levantadas
em Lisboa. Não cheguei ao mundo novo.
Nada é nacional. Desço no meu salto,
dói a culpa intrusa: ter roubado
teu direito de sofrer. Roubei tua
surdina, me joguei ao mar,
estou fazendo água. Dá o bote.
Ulysses
E ele e os outros me vêem.
Quem escolheu este rosto para mim?
Empate outra vez. Ele teme o pontiagudo
estilete da minha arte tanto quanto
eu temo o dele.
Segredos cansados de sua tirania
tiranos que desejam ser destronados
Segredos, silenciosos, de pedra,
sentados nos palácios escuros
de nossos dois corações:
segredos cansados de sua tirania:
tiranos que desejam ser destronados.
o mesmo quarto e a mesma hora
toca um tango
uma formiga na pele
da barriga,
rápida e ruiva,
Uma sentinela: ilha de terrível sede.
Conchas humanas.
Tá aí minha homenagem ao dia Internacional da Mulher, presenteando-os, meus caros leitores, com a bela obra de uma mulher admirável.
Na LUTA!
Adriano Pacianotto
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