quinta-feira, janeiro 24, 2019

O fundo é mais embaixo


Reprodução de charge de Mafalda, do argentino Quino

Na ocasião da prisão do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva me posicionei em texto publicado neste blog em relação a inconsistência de provas que justificassem seu confinamento, de viés claramente político, apontando naquele momento o Brasil na direção de generalizada arbitrariedade institucional.

Também me posicionei em favor do fortalecimento do pensamento de esquerda independente de siglas partidárias ou lideranças políticas, mas sim de um sentimento ativo de igualdade de oportunidades, de direitos e de deveres. Porém, confesso minha decepção com uma imensa parcela de simpatizantes do socialismo democrático.

O fato de Lula, a meu ver, ter sido preso arbitrariamente, não isenta o PT e os outros partidos de seu endêmico vício em prevaricação e poder. A culpa pelo descalabro atual da nação é peso nas costas de todos, sem exceção.

Fato é que a esquerda não se fortaleceu, pelo contrário, perdeu-se em deplorável confusão. Uma militância sofrível de usuários de redes sociais falando em resistência e oposição, postando convulsivamente leigas opiniões, enquanto bebem Toddy servido pela mamãe. Eles não correspondem ao comportamento do povo que transita na labuta diária. A utopia pode existir no campo das ideias afim de promover o direcionamento das ações; já o ato deve ser prudente e equilibrado. Nada disso reside na militância virtual, muito menos nos atos da representação pública, da vereança aos altos cargos de Brasília.

Ainda assim acredito que se Fernando Haddad fosse eleito, daria ao país, ao menos, algum direcionamento. Mas o resultado me parece não ter sido o desejado. Lula está preso, Dilma fora e o PT desmoralizado. E daí? Diante do caos instaurado por uma crise artificial criada pela elite brasileira, a extrema direita ganhou voz e elegeu democraticamente um presidente anti-democrático, explicitamente incompetente e notoriamente corrupto. O golpe saiu pela culatra.

Chamado de mito pelos que acreditam no comodismo do milagre, acabou vencendo sem saber minimamente o que fazer com a vitória. Não obstante, vê seu pálido governo naufragar em menos de um mês diante da vergonha de seu eleitorado e dos olhos sedentos do vice-presidente, inegavelmente mais astuto e experiente.

Há um limite até para a corrupção. Bolsonaro o extrapolou. É um desaforo que não será engolido nem por seus apoiadores, apressados em sair da linha de fogo. É nesse ponto que o vice-presidente, General Hamilton Mourão, prepara o bote.

O pescoço de Bolsonaro é suficiente para "moralizar" momentaneamente o Brasil perante os que bradam contra a corrupção; a solução para o assassinato da verdeadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, certamente assassinada por milicianos ligados a políticos e, claro, à família Bolsonaro, pode colocá-lo em condição mais confortável diante da imprensa e da oposição; a defesa da inclusão de militares na Reforma da Previdência dá a ele um tom complacente; a firmeza no discurso de combate a violência - problema de gravidade extrema na sociedade brasileira - o transforma em estandarte da esperança; e a capacidade de oratória e seu currículo nas Forças Armadas possibilita a capacidade de se posicionar diante as lideranças do mundo com autoridade e coerência, diferentemente da postura patética e exitante do atual presidente 

Mourão tem a oportunidade perfeita para reescrever a história à sua forma. Combaterá o inimigo invisível a que chamam socialismo, maquiará a corrupção com a ajuda de juízes parciais como Sergio Moro e mergulhará o Brasil num período de brutal conservadorismo e doutrinação ideológica através do medo, da obediência e do ódio. Uma espécie de revival da década de 1970, só que sem pornochanchada. 

Uma antiga Era que nos assombra. Tempos de generais. Valores chulos que descartamos há muito se transformando em salvação. O ódio venceu porque habita muitos lares e enfraquece corações. Ninguém será poupado dessa miséria que ultrapassa a matéria e corrói o espírito. O ódio será cravado nas almas em forma de terror. E o terror, sob as várias facetas que lhe nomeiam, será pesadelo em todos nós.

Na LUTA!
Adriano Pacianotto

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