Minos - Gustave Doré
DESORDEIRO DO INFERNO
(Adriano Pacianotto)
Ao som da máquina estridente
O musgo cresce nas paredes
E foi brotando lentamente
De uma fresta aparente
Um rubro galho reluzente
E dele enfim nasceu um fruto
Tão vermelho e tão pequeno
Que, sem motivo evidente
Triturei entre os meus dentes
E fui direto pro meu túmulo
Entrei num mundo diferente
Muito escuro e muito quente
E vi um homem demoníaco
Com grandes dentes pontiagudos
E longo rabo de serpente
Olhou-me e disse, contundente:
- Eu aqui sou teu coveiro
- Mas prefiro ser-te amigo
- Pois também sou delinquente
- E vejo em ti um companheiro
Logo ouvi que foi crescendo
Um chiado insano-intenso
E explicou-me o desordeiro
Que era o êxtase ofegante
Dos vermes devorando os seres
E nada havia para vermos
Além de almas se afogando
Naquela foça borbulhante
Com cheiro de carne podre
E ausência total de anjos
Então corremos feito loucos
Pulamos como dementes
Em busca de vis banquetes
Afim de devorar os tolos
E as vísceras dos inocentes
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