Não me compram as religiões fatídicas
Se sorrio ou choro isso nada importa
Quando enfim chegar a minha hora
Quando o óleo da engrenagem seca
A vida cessa e ninguém chora
Tanto quanto a própria alma
Arrependida do agora
Não tenhas a prepotência da verdade
Não te vendas às religiões fatídicas
Se sorris ou choras isso nada importa
Quando enfim chegar a tua hora
A carne estraga
A madeira estraga
As flores morrem
E o perfume acaba
Profanarão teu túmulo sem nenhum remorso
E sem remorso demolirão tua casa
Nem teu nome restará na placa
Roubarão o bronze e até tuas calças
Pois o mato cresce e o mundo esquece
A terra enterra e o sol se apaga
Nenhuma visita te trará uma prece
Nem suspiro leve de lembrança vaga
Não tenhas a prepotência da homenagem
Ninguém saberá teu nome nem tuas datas
Não lembrarão de ti ao redor da mesa
Em que a tua infância foi amada
Teus pais terão morrido
Também teus filhos e as histórias
Terá teu tempo se esvaído
Não terás luto nem memórias
Não tenho a prepotência da verdade
Não me compram as sanhas políticas
Se reclamo ou clamo isso nada importa
Quando pesarem séculos sobre a minha cova
A seiva dos sonhos terá secado
Todos os sonhos serão esquecidos
E nossos ossos deitarão no ossário
Sem vestígios dos dias vividos
Adriano Pacianotto
21/04/2020
1 comentários:
Pois é, no final das contas é assim mesmo. Seu poema escancara nossa efemeridade e a inutilidade das nossas vaidades. Um conselho poético para colocarmos os pés no chão e aceitarmos a nossa mortalidade e o mundo de memória curta. O cenário sombrio não deixa espaço para dúvidas: do pó viemos, ao pó retornaremos. Sem deixar vestígios e, pouco a pouco, o tempo há de nos apagar da memória do mundo. Sad but true... E, de novo, parabéns pelo ritmo, pelas rimas e criatividade.
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