quarta-feira, agosto 30, 2017
Guerra e Paz - Maiakóvski
Guerra e Paz*
(Vladimir Maiakóvski)
Prólogo
Vós outros tendes sorte.
A vergonha não cai sobre sobre os mortos.
Logo cessais
de odiar os assassinos mortos.
Julgais
que o mais puro dos líquidos lava
o pecado da alma que se evola.
Tendes sorte.
Mas eu
como levarei meu amor à vida
através das fileiras,
através do estrondo?
Apenas um passo em falso
e a migalha do último e pequenino amor
rolará para sempre num torvelinho de fumo.
Aqueles que regressam
que lhes importa
vossas tristezas?
Que falta lhes faz
a franja de alguns versos?
Basta-lhes um par de muletas
com que renguear pelo resto da vida.
Tens medo? Covarde!
Te matarão!
E tu,
tu poderias viver escravo
cinquenta anos mais.
Mentira!
Sei
que na lava do ataque
serei o primeiro
em audácia,
em valor.
Ah! que bravo recusaria atender
ao toque de rebate do futuro?
Mas na terra
hoje
sou o único arauto das verdades em marcha!
Hoje estou exultante!
Sem desperdiçar nem uma gota,
despejei minh'alma até o fim.
Minha voz,
a única humana,
entre lamentos e gemidos
ergue-se à luz do dia.
Depois
atai-me a um poste,
fuzilai-me!
Por causa disso
haverei de mudar?
Na fronte
desenharei um alvo
para que nítido se destaque
quando apontarem.
Fonte: "Maiakóvski - Vida e Poesia" - Tradução de Emilio C. Guerra e Daniel Fresnot - Editora Martin Claret - 2006
*Deste longo poema, traduzimos apenas o prólogo, a dedicatória, trechos da 3ª parte e última parte. (N. do T.)
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