quinta-feira, julho 21, 2016

Um Sussurro Nas Trevas



(...) Ouvi falar da Pedra Negra e do que ela implicava, sentindo-me contente por não a ter recebido. Meus palpites sobre aqueles hieróglifos tinham sido bastante acertados! No entanto, Akeley parecia agora reconciliado com todo o demoníaco sistema com que se defrontara; reconciliado e ansioso por sondar ainda mais profundamente o abismo monstruoso. Eu estava a imaginar com que seres ele haveria conversado desde sua última carta e se muitos deles seriam tão humanos quanto aquele primeiro emissário que ele havia mencionado. A tensão em meu cérebro tornava-se insuportável e pus-me a elaborar toda sorte de teorias delirantes sobre aquele curioso e persistente odor e aquelas insidiosas insinuações de vibração no cômodo escurecido.

A noite já caía, e ao me recordar do que Akeley me escrevera sobre aquelas primeiras noites, estremeci ao pensar em que não haveria luar. Tampouco gostava do modo como a casa da fazenda se aninhava no seio daquela colossal encosta que, coberta de florestas, levava ao topo inexplorado da montanha Escura. Com a permissão de Akeley, acendi um lampião a azeite, baixei a chama e coloquei-o sobre uma estante afastada, junto do fantasmagórico busto de Milton. Depois, entretanto, arrependi-me de o ter feito, pois a luz fazia com que o rosto tenso e hirto de meu anfitrião, assim como suas mãos exangues, parecessem horrivelmente anormais e cadavéricas. Ele parecia quase impossibilitado de se mover, ainda que eu o visse balançar a cabeça rigidamente de vez em quando. (...)

Do conto "Um Sussurro Nas Trevas" (1939) de H.P. Lovecraft


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