sexta-feira, janeiro 21, 2011

Um pouco de literatura maldita


Mais um conto da nova marginália paulista, do Rodrigo Oliveira, o bukowskiano Vinte e Oito.

Na LUTA!
Adriano Pacianotto


VINTE E OITO
por Rodrigo Oliveira - @insideshout

Esfregou o fumo na palma da mão. Assistia a TV. Cortou um pedaço de "seda". Depositou o produto no papel. Uma volta. Duas voltas. Passou a língua. Bateu uma das pontas contra a mão esquerda. Colocou sua arte sobre a mesa. Abriu a gaveta do armário da cozinha. Contas. Contas vencidas de luz, água e móveis. Retirou a gaveta. Remexeu no fundo de madeira. Apanhou a "quadrada". Quinze tiros. Um na agulha, quatorze no pente. Colocou na cintura. Entre o cinto e a cueca. Leu pela vigésima vez o bilhete em cima do fogão: "Fui ao shopping com a Tereza... Beijos". Beijos... Beijos? Entrou no quarto. Abriu o guarda roupas. Vestiu a camisa. Calçou os sapatos. Olhou pela centésima vez o retrato dela. Cabelos pretos. Olhos azuis. Linda. Linda? Passou pela cozinha. Guardou sua obra de arte no bolso da camisa. Saiu. Uma quadra. Duas quadras. Uma avenida. Uma quadra. Uma rua. Uma escada.


Hotel barato. Vinte e três a pernoite. Quarenta e seis a diária com café. "Boa tarde". "Boa tarde". Tédio. Mentira. Boa tarde? "Um quarto". "Pernoite?". "Isso". Vinte e três adiantados. Subiu as escadas. Fitou a chave. Quarto 27. Parou frente ao vinte e oito e ouviu: "Vai paizinho... ahh. Isso paizinho... Mete, mete...". Entrou no 27. Tirou os sapatos. Calçou os chinelos descartáveis. Saiu. No corredor ouviu: "Vai paizinho...". Outra vez. Outra vez?


Desceu as escadas. A rua. O bar. "Uma cerveja". Um copo. Dois copos. Três copos. "Mais uma". Um, dois, três. "Cinquenta e um com limão". Virou de uma vez. "Mais uma". De novo. A conta. O troco. A rua. As escadas. O vinte e oito. "Vai paizinho...". Vinte e oito. V-i-n-t-e-e-o-i-t-o. Dois e oito. Dois mais oito. Dois mais oito, dez. Dez? Dez anos. Dez noites. Dez tardes. Dez necessário. Dez nivelado. Dez casado. Dez casado?


Chutou a porta 28. Susto. Calma. Não disse nada. Braços peludos. Jovem. segurava seus cabelos pretos. seus olhos azuis. SEUS olhos azuis? Tirou da cintura. Estava entre o cinto e a cueca. 1.2.3.4.5.6.7.8.9.10.11.12.13.14.14.Clik.Clik. Quatorze. A quinze emperrou. Sangue. Lágrimas. Corpos. Dois. Dois? As escadas. O balconista. O medo. Dele claro. Segurava o telefone. Abaixou a cabeça.


A rua. O bar. "Uma cerveja". Um copo. Dois copos. Tirou o baseado do bolso. Acendeu. Uma tragada. Fumaça. "Não pode fumar maconha aqui". "Foda-se". Duas tragadas. Duas tragadas?


Ouviu as sirenes...

1 comentários:

Unknown disse...

Nossaa muito bom, parabéns

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