quinta-feira, janeiro 27, 2011

SOB O DOMÍNIO DO ÓPIO



SOB O DOMÍNIO DO ÓPIO
Adriano Pacianotto


Aquela estrada maldita se estendia por quilômetros infindáveis. Não havia sequer um túmulo à sua volta que não me causasse enorme fascínio, porém, nada se igualava ao feitiço que a desconhecida lápide negra exercia sobre mim. Na última noite um velho demoníaco veio num de meus sonhos e disse-me que eu deveria encontrá-la e cavalgar o enorme verme alado que mora lá.

O céu daquele lugar era de um rosa quase fosforescente e o sol um círculo branco sem luz própria. A estrada era um tapete de mármore com rachaduras que descobriam abismos coloridos. Andei por horas nessa estrada e tudo que me cercava eram fantasmas e mausoléus, nada se modificava, com exceção das raras tempestades de cadáveres que caiam quando o céu ficava amarelo, que obrigavam-me a esconder-me em alguma catacumba abandonada. Essas tempestades tornavam o caminho escorregadio e fedorento, devido ao caldo grosso que escorria dos defuntos espatifados no chão.

Caminhei naquele vale de morte durante cinco dias, alimentando-me apenas de estranhas larvas roxas que brotavam do solo podre do cemitério infinito e bebendo da água negra que pingava dos cones retorcidos que desciam do céu.

Finalmente encontrei a enorme lápide negra, parei debaixo dela, ela flutuava a uns dois metros acima do solo arenoso, e foi naquele exato momento que eu morri. Centenas de demônios de vinte centímetros me sepultaram num caixão circular de ouro, meu espírito se levantou do meu corpo e então, enfim, pude ver a multidão de anjos decaptados pendurados por ganchos flutuantes naquele ar empoeirado e morno. De um buraco cheio de uma repugnante gosma verde saiu o enorme verme alado, voou por algum tempo e depois pousou ao meu lado, foi então que cavalguei-o por mais de mil séculos desconhecidos, mas deles nada lembro.

Isso é tudo que sei até vir parar neste estranho deserto agônico. O verme alado desapareceu e o velho demoníaco ressurgiu e disse-me que devo encontrar o abismo azul e semear a vagina morta que mora lá.

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