quinta-feira, novembro 19, 2009

Crises & K7's






Hoje foi um dia estranho, com aquela sensação sombria, uma coisa meio day after de cocaína.
Eu me senti assim hoje por conta de alguns problemas profissionais que me fizeram muito mal.
Aquele velho lance de não ser reconhecido, de fazer tudo com o maior esforço e carinho pra neguinho te tratar como lixo. Essa coisa toda de sentir-se injustiçado, e de temer pelo futuro.

Eu tenho tanto apreço pelas coisas que faço, sejam as mais complexas ou as mais simples. Eu procuro colocar o máximo de sentimento em tudo, o máximo de verdade e alma, mas vejo no mundo uma inversão de valores... se dá melhor sempre quem faz o pior, é revoltante.

Não sei ser desonesto, nem sei fazer as coisas simplesmente por fazer. Também não faço as coisas pensando em dinheiro, embora eu precise, mas faço primeiro pensando na qualidade, na utilidade e no porquê, e deixo o lucro como consequência.

Mas coisas bem feitas não recebem valor. As pessoas são como hienas.

Temo essas crises de "artista incompreendido". Um borderline será sempre um borderline. Nessas horas sempre penso em suicídio. É quando percebo que toda a luta vira "murros em pontas de facas".

Por sorte tenho a meu lado uma pessoa maravilhosa, que me diz coisas sábias, e me acalma.
Depois de conversar com a Denise, minha namora, e futura Sra Pacianotto rs, me senti bem melhor.

Sem cabeça para o trabalho, precisando arrumar o computador, o que não é fácil para alguém que aprendeu teclar na datilografia e tem, naturalmente, uma resistência a tecnologia, resolvi abrir uma cerveja.

Com uma pequena dose de álcool no sangue e a mente mais calma, deixei-me viajar em mim.

Coisa pequenas me fazem feliz. Um fita K7, parte do meu acervo, que não mexia há anos, me trouxe o encanto à tona.

Antigamente as coisas eram mais difíceis, mas muito mais verdadeiras. Quem descobriu o underground 20 anos atrás precisava ter atitude pra sobreviver, diferente de hoje que basta ter um "bostolog" da vida e falar as groselhas que quiser que ninguém liga.

A Internet foi a revolução dos burros. Qualquer acéfalo pode ser escritor, músico ou produtor. É ridículo.

Imagine que tem gente que publica blog e escreve "mediLcre" ou "acreditão", por exemplo.

Nada contra os analfabetos, desde que o sejam por falta de oportunidade, e não por conivência à própria ingnorância, isso é inadmissível.

Enfim, há muito dessa gente infectando o mundo, contribuindo para o caos cultural, e hoje, no ápice de minha revolta, eu queria fuzilá-los.

Fugi completamente do assunto. Vou tentar retomar o fio da meada...

Falava do underground de tempos atrás, quando não tinha Internet e manter os dentes na boca era uma questão de atitude. Aliás, arranquei muitos dentes de muitas bocas, mas deixa isso pra lá.

Ah, sim, eu falava da fita K7... eu parecia criança vendo a calcinha da coleguinha do prezinho quando a encontrei.

Na capa, datilografado, o título "Poesie Noire: Existential Despair, Methaphysical Distress, Ontological Ungludation and Cosmic Meldown". Nome comprido da porra! Mas a fita não era do Poesie, era uma gravação de "O Ápice", dos sorocabanos do Vzyadoq Moe, com algumas demos de bandas nacionais no labo B. Quase me gozei todo ao saber que eu ainda a tinha.

Eu recebi essa fita por correio, no começo dos anos 90, eu acho, de um cara chamado Leandro, de Santos/SP, com quem eu me correspondia na época. Não me lembro se ele era fanzineiro ou músico, ou os dois. Era assim que funcionava naquele tempo, e quer saber? Era bem melhor.

Junto ao K7 a carta que ele me escreveu, amarelada, que vou reproduzir na íntegra:

Aguardo resposta com seus comentários sobre as bandas.
Até mais.
Leandro.
Ps.: Se possível me envie os selos que estão colados no envelope

Gozei! gozei dez vezes!
Essa era a essência máxima do fanzineiro: o truque do selo.
Passávamos cola tenaz neles, depois era só passar uma borracha branca que o carimbo saia, e o mesmo selo era usado até desmanchar.
Eram tempos difíceis, mas eram tempos mágicos. Coisas que a Internet jamais poderá proporcionar às novas gerações.

Bom, vou continuar ouvindo o Vzyadoq aqui, tomando mais uma cerveja antes de dormir, e pensando no meu amor.

Boa noite a todos.

Na LUTA!
Adriano Pacianotto

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