sexta-feira, maio 08, 2009

Das coisas pequenas que me fazem bem



Estou dando uma pausa na publicação dos poemas editados em zines antigos, primeiro porque tenho a necessidade de escrever coisas novas, segundo... bom, segundo porque eu não to afim mesmo rs.

Na verdade acho que esse lance de "desenterrar" esses volumes antigos serviu para me mostrar o quão importante me eram coisas tão simples. Lembro-me de um amigo que dizia que para me ver quieto era só me dar cola, tesoura e umas revistas velhas rs. Pior que era verdade. Fazia parte da minha criação, primeiro eu escrevia meus poemas, naquele tempo escrevia de madrugada, só com uma luminária e todas as outras luzes apagadas, ouvia baixinho discos como o Disintegration, do The Cure ou o Closer, do Joy Division, e no dia seguinte revisava e datilografava os versos, depois juntava tudo, tirava xerox reduzida e fazia as colagens sobre uma folha de sulfite qualquer, e pronto, era só rodar as cópias e distribuir por aí. Bom, confesso que dezenas dessas colagens nunca foram para a gráfica, mofaram em gavetas ou ganharam o fim indigno de tornar-se papel picado. É, eu também tinha dessas, de terminar o boneco e não gostar, enfiar na gaveta e lá deixar por um longo tempo e, enfim, naquelas faxinas de fim de semana, dessas que se faz nas férias, eu jogava tudo no lixo.

Essa época me marcou bastante, foi minha adolescência e juventude, desde os meus 13 anos, isso é lá longe, começou em 1989, quando o mundo era completamente diferente, quando não havia Internet, nem computador direito, quando o CD era a grande novidade tecnológica substituindo os bolachões, quando amor era algo sério, e a vida precisava ser bela a todo instante.

O tempo passou, o mundo mudou, muitos valores se perderam nos corações das novas gerações, mas eu ainda tenho a minha velha máquina de escrever, precisando de manutenção obviamente, mas guardada como a alma daquilo que fez parte de um momento importantíssimo da minha vida. Eu também tenho ainda o Desintegration e o Closer, e mais um monte de coisas antigas. E gosto de tocá-las, observá-las e sentir na lembrança o perfume daqueles dias.

Talvez o fato de eu me encontrar apaixonado feito um adolescente de 15 anos em meus plenos 33 tenha reacendido essa minha chama por vida, novidades, encantos e belezas que só são vistas em momentos de felicidade. E eu redescobri que posso ser feliz com coisas pequenas, aparentemente bobas, mas capazes de tornar o mundo suportável. Eu só preciso de cola e tesoura, poemas datilografados, e um grande amor de carne e alma! O resto é tudo coisa banal da vida cotidiana, essas coisas que fazemos por dinheiro e diversão, essas coisas que não cabem no caixão, e nem darão algo mais digno que um frase feita numa lápide sem lágrimas, do tipo: "Aqui jaz um advogado" ou "Aqui descansa um filho da puta". São essas coisas simples de que falo que farão o destino de cada lápide, porque morrer sem deixar saudades, é o mesmo que nunca ter vivido.

Minha vida vai tomar novos rumos, isso é fato, estou num daqueles momentos em que se tem de reciclar a própria existência, cortar alguns males, se desprender de dogmas furados, abraçar o que realmente merece respeito, cortar vícios, mudar horários, estar preparado para receber alguém novo, e que terá a maior importância de tudo... Acho que vou começar mandando minha velha Remington pro conserto, tirando um dia de folga para ouvir os estalidos de meus discos de vinil e marcando um passeio bobo, com pipoca, cinema e amor infinito.


Na LUTA!
Adriano Pacianotto

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