quinta-feira, julho 30, 2020

Estatísticas



ESTATÍSTICAS
(Adriano Pacianotto - Julho/2020) 

Sem vela, velório e pompas
Despede-se a alma escura
Na esquife dos excluídos
Só, ante a sepultura

Sem fé vai seguindo à míngua
E esvai-se em tanta amargura
Despacho sanitarista
Em dias de horror e fúria

Sem vela nem sino e pompas
Segue em burocracia astuta
Enquanto o caixão trepida
Na maca enferrujada e bruta

E segue lacrado e lúgubre
À vala coletiva e surda
Enquanto a escavadeira ruge
Qual monstro que semeia tumbas

Enfim silêncio e obituário
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Poeira de genocídio
Macabras questões políticas

sexta-feira, julho 17, 2020

Desordeiro de Inferno


Minos - Gustave Doré

DESORDEIRO DO INFERNO
(Adriano Pacianotto)

Ao som da máquina estridente
O musgo cresce nas paredes
E foi brotando lentamente
De uma fresta aparente
Um rubro galho reluzente

E dele enfim nasceu um fruto
Tão vermelho e tão pequeno
Que, sem motivo evidente
Triturei entre os meus dentes
E fui direto pro meu túmulo

Entrei num mundo diferente
Muito escuro e muito quente
E vi um homem demoníaco
Com grandes dentes pontiagudos
E longo rabo de serpente

Olhou-me e disse, contundente: 
- Eu aqui sou teu coveiro
- Mas prefiro ser-te amigo
- Pois também sou delinquente
- E vejo em ti um companheiro

Logo ouvi que foi crescendo
Um chiado insano-intenso
E explicou-me o desordeiro
Que era o êxtase ofegante
Dos vermes devorando os seres

E nada havia para vermos
Além de almas se afogando
Naquela foça borbulhante
Com cheiro de carne podre
E ausência total de anjos

Então corremos feito loucos
Pulamos como dementes
Em busca de vis banquetes
Afim de devorar os tolos
E as vísceras dos inocentes

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