sexta-feira, maio 22, 2020

Nenhum Cheio de Alvorada



Nenhum Cheiro de Alvorada
(Adriano Pacianotto)

Desta vez não houve nada
Nenhum cheiro de alvorada
Pôr-do-sol sem muita calma
A esperança indo embora
Sem dizer uma palavra

Sem poemas. Tudo cala
A beleza se apagou
A impaciência fez morada
Nem luar e nem mais nada
O coração me abandonou

Sem olhar de noite alta
Nenhuma lágrima brotou
Não houve porre nem ressaca
Nem sequer instante bom
O vazio me dominara

Naqueles tempos de desgraça
Ao menos eu me machucava
Jogava sangue na vidraça
Enquanto via a minha estrada
Com olhares de gigante

Mas agora já nem brasa
Só fuligem se agitando
Se perdendo pela casa
E infelizes sonhos brandos
Que não queimam mais na alma

quinta-feira, maio 14, 2020

No Centro da Cidade Cinza



No Centro da Cidade Cinza
(Adriano Pacianotto)

É sexta-feira
No centro da cidade cinza
E as mudanças de caminho
Desviam-me do teu brilho
E de tudo o que conheço

No rosto o frio e o vento
Entre os prédios, pequenino
Vejo o quanto tudo é imenso
E o quão distante é o recomeço
Que parece-me impossível

Vejo a vida envelhecendo
E o sol não serve abrigo
Entre as torres de cimento
Onde a chuva doutros tempos
Vez ou outra vem comigo

sexta-feira, maio 08, 2020

DOI-CODI




DOI-CODI
(Adriano Pacianotto)

Nove e trinta
Um grito
Eletricidade e afogamento
E ameaças pavorosas
Aos que pensam livremente
Mas ninguém havia entrado
Para elucidar desterros
Preferiram moer gente

Dez e trinta
Um slogan
Dedos roxos e unhas verdes
Restos num saco preto
E nenhum túmulo aparente
Pois ninguém havia estado
Ali para marcar o enterro
Estavam controlando mentes

Onze e trinta
Uma música
O Hino dos Excludentes
Que deixou um mal sem preço
Mas ninguém havia tentado
Fingir que estava vendo
Estavam na antessala
Do hospício brasileiro


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