quinta-feira, agosto 11, 2016
"O Guardião da Meia Noite"
(...) Nos olhos dela não havia mais lágrimas, apenas frieza e desprezo por mim. Apanhou roupas, joias e algumas coisas de uso pessoal e foi para a casa dos pais: eu havia pedido a única coisa que me importava neste mundo.
Sim, ela era tudo para mim, e sem sua presença não valeria a pena viver. Tranquei-me no quarto e chorei muito; estava muito fraco e, em poucos dias, não tinha mais forças para mover-me.
(...) Não tinha mais noção de tempo, mas sabia que estava trancado no quarto há muitos dias. Não sabia se era dia ou noite nem conseguia mover-me da cama, sentindo dores em todo o corpo. Lentamente, uma lassidão foi me envolvendo. Consegui dormir um pouco, mas logo acordei com pancadas na porta e com gritos que me mandavam abri-la.
- Senhor Barão, abra esta porta, por favor!
Ouvi também a voz de minha esposa, pedindo-me que fosse abrir a porta. Animei-me com a presença dela, tentei levantar, mas não conseguia me mexer. Estava paralisado pela fraqueza.
- Vamos derrubar esta porta! - falou alguém.
A porta era muito resistente e tinha um grande ferrolho atravessado ao meio. Com um machado, começaram a despedaçá-la, e eu nada podia fazer para ajudá-los. Por mais que me esforçasse, não conseguia mover um dedo.
Mil pensamentos passaram pela minha mente. Talvez Deus tivesse me castigado e paralisado meu corpo. Sim, só podia ser isso!
Por fim, a porta foi derrubada e vi meu sogro e minha esposa, com alguns empregados. Quando entraram no quarto, taparam as narinas.
- Meu Deus, ele está morto há dias! - falou ela.
- Sim, o cheiro está muito forte. Acho melhor providenciarmos o enterro o mais breve possível. (...)
Trecho do livro "O Guardião da Meia-Noite" - Rubens Saraceni.
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