NO SOLAR DOS TRISTES DIAS
(Adriano Pacianotto)
Ergueu-se, calmo, em mim
O solar dos tristes sonhos
Que, sombrio e belo, esconde
Corredores onde habitam o mofo
E saudades de tempos distantes
O solar onde a alma vaga
Entre vasos de orquídeas mortas
E retratos dos que já se foram
Entre sombras e arquitetura gótica
E cupins lhes devorando as cores
Pelas janelas uma brisa sopra
E a poeira flutua em salas
De semblante sério e fúnebre
Enquanto fantasmas vagam na casa
Com seu ar de vela e flores
Caixões navegam balaústres
Como naus em calmaria
Com seus vultos de carrancas
Como o vulto d’algum dia
Que se apaga da lembrança
E ao ouvir os passarinhos
Corro até a varanda
E me sento na escada cinza
Assistindo o derramar das folhas
E o enferrujar de meus amores