Corno manso é o fim do mundo! - falou alto no ônibus uma mulher com meia dúzia de filhos para a amiga no assento ao lado - Se aquela vaca vier de novo com conversa pro lado do Gilson e aquele banana do marido dela não fizer nada eu esbofeteio os dois! - continuou em voz alta. Constrangimento geral dos passageiros. Funk rolando no celular de um garoto. Aparelho tão caro e tecnológico que nem sei como funciona. Ficou ali tocando baixarias na orelha de uma senhora de cabelos grisalhos, semblante sério e bíblia debaixo do braço. No corredor a meia dúzia de crianças corria de um lado para o outro enquanto a mãe gritava que iria matá-los quando chegassem em casa. Pânico daquelas crianças de mãos imundas, do funk e das buzinas resmungando as barbeiragens do motorista. O ônibus chacoalhando de lá pra cá, tentando jogar as crianças em cima de mim. Se alguma cair aqui perco as estribeiras, jogo longe e vou preso na hora. Motorista da linha Parque D. Pedro deve ter licença pra matar. Se a velhinha não pula pra calçada... A viagem segue, o motorista lança palavrões janela afora e intercala conversas com o cobrador naquela língua que só eles entendem. Numa parada, pela porta traseira, 2 sacos de batatas foram jogados no corredor. Um homem de roupas puídas e olhar cansado entrou pela frente para pagar a passagem e alcançar suas semilhas, enquanto o ônibus saia em disparada como se também fôssemos batatas. O funk não pára, nem as crianças, nem os palavrões e muito menos a mulher com a conversa sobre a piranha do marido corno. Finalmente meu ponto! Dou sinal. Esquivo das crianças, penso em jogar o funkeiro e motorista pela janela, tropeço nas batatas, o tiozinho de olhar cansado puxa os sacos para longe da porta e me pede desculpas, digo que não foi nada, sorrio e sigo meu caminho pensando que talvez esteja na hora de comprar um carro para dar carona ao tiozinho das batatas.
Adriano Pacianotto
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