Nem só de rock vive o underground brasileiro, a exemplo dos autores citados abaixo - companheiros de luta - que tem ligação direta com a cena de rock independente nacional, mas também aventuram-se noutros mares, escrevem e lançam seus livros de forma independente, nadando contra a maré neste país de best sellers de metrô. Seguem alguns trechos de cada publicação e links para compra de exemplares. Breve postarei mais lançamentos (físicos e virtuais) de poetas e escritores independentes que admiro. Espero que gostem tanto quanto eu! Boa leitura.
Na LUTA!
Adriano Pacianotto
LEPROSÁRIO DA ALMA
POEMAS - EDUARDO MORPHEUS AFFINITO - 2013
LINHAS IMAGINÁRIAS
É difícil tragar...
O ar está seco, a vida monótona...
A inércia me deixa nervoso...
Cuspo sangue e imagino a morte
Não tenho medo de terminar assim.
Nada foi realizado, nenhuma conquista
Tudo se perdeu dentro de mim
Como um sonho, talvez por um sonho...
Isso é o que a vida me parece
Um lugar que não foi feito de outra forma
Senão pra este desgraçado fim
Mas não se iluda, a vida é maravilhosa
Os campos, a natureza, até mesmo as cidades
Cartões de crédito e limites razoáveis
Amores pérfidos e paixões nobres
Tudo isto é prazer ilimitado...
Pessoas ricas e gente pobre
Barulho gostoso e música insalubre
O zoológico que estabelece a lógica
Enquanto passo nas ruas e observo
Por detrás das vitrines e janelas...
Tudo isso é demais
Demais pra mim...
Tomei novamente a rota dos desesperados
O grito está no bagageiro
O horror continua agendado...
Já cumpri minha pena
E aqui, onde a vida floresce
Sinto-me encarcerado
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CLANDESTINO
ROMANCE - NENÊ ALTRO - 2013
(...) Nora via poesia na resistência, chorou com a queda do Muro de Berlim, via esperança em cada gesto bom que acontecia em seu dia. Eu nunca fui niilista, mas quando deixei de ver todas essas coisas? Não sou a mais coerente das pessoas e não vivi uma das vidas mais dignas que se pode viver, fiz muita merda, errei muito, mas não me sinto alguém ruim. Já acreditei muito na vida sem capitalismo, na verdade ainda acho a mesma coisa, mas é difícil acreditar num modo de vida diferente quando se deixa de acreditar nas pessoas. Cansei de ser colocado para baixo ou passado pra trás por gente que só queria uma migalha a mais da sociedade. Cansei de oferecer a mão e ser puxado pra baixo para que me usassem de apoio pra subir. Cansei de dar o melhor de mim e ser motivo de chacota, inveja, alvo de todas essas coisas mesquinhas. Acho que foi assim que Nora começou a morrer. (...)
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comprandoclandestino@gmail.com
DESISTÊNCIA
POEMAS - MATEUS NOVAES - 2012
Eu vejo na minha vizinhança
todo descaso amarrado
em sacos de lixo preto
um caixa de supermercado
drácula anêmico recusa
minha dose de veneno
diário toco fogo no
meu corpo com fósforo
por meia hora depilo
o ânus e pingo gotas
de álcool zulu na uretra
antes do almoço
pra abrir o apetite
aqui é sempre uma festa
acho que estou grávido
de cartões de crédito
não vomito há anos
a cidade como sempre
está tranquila
um cadáver de bruços é um cadáver de bruços é
um cadáver de bruços é um cadáver de bruços
há dois dias não
tomo banho
e não
amo ninguém
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RETALHOS AO RELENTO
POEMAS - ÉRICO MARIN - 2011
NOITE FERIDA À FACA
Labirintos de asfalto
& construções de estruturas expostas,
esquinas povoadas por árvores robustas
que tremem à passagem
dos carros.
Árvores sorrindo sob o calor da noite.
Sombras ocupadas por crianças
de chinelo e bermuda.
Holofotes,
luzes pousando,
aterrissando
em forma de círculos
suspirantes.
Avenidas de duas mãos,
canteiros gramados.
Fuzis luminosos,
para-brisas escuros,
aglomeração, multidões, gente reunida na porta das boates.
Ruas cobertas de carros e saltos plataforma.
Luzes evaporando, arrebatando sorrisos de dentes brancos,
pálpebras escoltadas por letreiros luminosos.
Seios martirizando engrenagens,
umbigo à mostra,
desfile de sensações.
Corpos ocupando calçadas,
loiras esbeltas, morenas esguias.
(A noite parecendo um desfile de modas -
saias, calças de cintura baixa, saltos).
Tudo arde e palpita
na noite
tétrica
da cidade.
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1 comentários:
Excelente post!
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