sábado, janeiro 05, 2013

LAUTRÉAMONT



(...) "Existe um inseto que os homens alimentam às suas próprias custas. Nada lhe devem; porém o temem. E ele, que não aprecia o vinho, mas prefere o sangue, não sendo satisfeito em seus desejos legítimos, será capaz, por um poder oculto, de ficar tão grande quanto um elefante, e esmagar os homens como se fossem espigas.  É digno de nota ver-se quanto o apreciam, quanto o cercam de uma veneração canina, como o colocam em alta estima, entre os animais da criação. Dão-lhe a cabeça por trono, e ele aperta suas garras na raiz dos cabelos com dignidade. Mais tarde, quando engorda e entra em idade avançada, imitando o costume de um povo antigo, matam-no, a fim de que não sinta os incômodos da velhice. Prestam-lhe grandiosos funerais, como a um herói, e o caixão, conduzido diretamente à sepultura aberta, é carregado aos ombros pelos principais cidadãos. Sobre a terra úmida que o coveiro escava com sua pá sagaz, combinam-se frases multicores sobre a imortalidade da alma, o nada da vida, sobre a vontade inexplicável da Providência, e o mármore fecha-se, para sempre, sobre essa existência laboriosamente preenchida, que agora nada mais é senão um cadáver. A multidão se dispersa, e a noite não tarda a cobrir com sua sombra as muralhas do cemitério." (...)

Os Cantos de Maldoror - pelo Conde de Lautréamont (1846 - 1870) 

1 comentários:

ruy camara disse...

Deixo aqui uma saudação aos amigos de Ducasse, com esperanças de que leiam CANTOS DE OUTONO, O ROMANCE DA VIDA DE LAUTRÉAMONT.
Cordialmente
Ruy Câmara
www.ruycamara.com.br

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