quarta-feira, agosto 01, 2012

A REVOLUÇÃO CULTURAL PENHENSE



Penha - A História do Bairro
Por Elaine Muniz Pires
Fonte: Banco de Dados Folha - http://almanaque.folha.uol.com.br/bairros_penha.htm

A história do bairro da Penha se confunde com o mito sobre a origem de seu nome. Passagem obrigatória entre as aldeias de Guarulhos, São Miguel e Tatuapé, a região fazia parte da rota utilizada pelos bandeirantes a caminho do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, desde meados do século 17. Conta-se que um viajante francês seguindo por este trajeto certa noite descansou numa colina onde hoje se localiza o bairro, tendo na sua bagagem uma imagem de Nossa Senhora da Penha. Ao continuar o trajeto, no dia seguinte, sentiu falta da santa e voltou para procurá-la, encontrando-a onde pernoitara. Recolhendo a imagem prosseguiu viagem, mas, em pouco tempo, notou novamente sua falta. Encontrando-a na colina concluiu que a santa tinha escolhido o local como pousada e ali construiu uma capela.

De fato, o bairro se desenvolveu em torno desta santa. Sua fundação é incerta, mas a data mais citada é a de 5 de setembro de 1668, quando foi concedida uma sesmaria ao padre Mateus Nunes da Siqueira. No entanto, o próprio documento esclarece que o padre já possuía uma fazenda no local e que havia, por iniciativa de seu irmão, o também padre Jacinto Nunes da Siqueira, erigido uma capela para Nossa Senhora da Penha. Não se sabe ao certo quando a devoção se inicia, mas o primeiro documento de fé data de 1667 referente a uma doação em testamento à igreja. Com o passar dos anos, as peregrinações ao local cresceram de uma tal maneira entre os paulistanos que, até meados do século 19, as comemorações em homenagem à santa constituíam uma grande festa na cidade. Sempre no dia 8 de setembro, quando se comemora a natividade da santa, cortejos chegavam do centro da cidade pelo caminho da Penha (atual avenida Celso Garcia). A santa contava com tal devoção dos paulistanos que nos grandes surtos de cólera ou varíola do século 17, a imagem era deslocada para a igreja da Sé.

Em 22 de março de 1796, a Penha foi elevada a categoria de freguesia, integrando regiões que hoje formam hoje os bairros de Guaianazes, São Miguel, Ermelino Matarazzo e Vila Matilde. É deste período que data a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída e destinada aos escravos. Por possuir significado especial para comunidade até os dias atuais _ sobretudo a sala dos milagres _ e diante da manutenção de sua estrutura de taipa de pilão intacta, foi tombada pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), em 1982, em detrimento da Igreja Matriz.

A Penha, até o início do século 20, não passava de um pequeno vilarejo com algumas chácaras. Com o processo de industrialização e urbanização da cidade, o bairro passou a receber parte da população operária, o que o caracterizou até meados da década de 60 como um bairro estritamente "dormitório". Já nos anos 70, apesar do deficiente saneamento básico, da precariedade dos sistema de ensino, saúde e transporte e de apenas 40% das ruas estarem asfaltadas, o comércio local começa a se desenvolver. Um comércio variado e característico, como a "rua das noivas" (rua Padre João), se instalou ao lado dos cinemas Júpiter, Penharama e São Geraldo. A inauguração da estação Penha do metrô, em 1986, deu novo fôlego à modernização, propiciando o desenvolvimento de uma infra-estrutura praticamente auto-suficiente para região, que conta com muitos colégios públicos e particulares, um sistema de transporte considerável, hospitais, bibliotecas e etc.

Hoje, os cinemas do bairro não mais existem, tampouco a rua das noivas tem o prestígio dos anos 70. O bairro residencial transformou-se também em um centro comercial para zona leste da cidade, possuindo além das já tradicionais lojas de rua, o Mercado Municipal, um shopping center inaugurado em 1992 e muitos vendedores ambulantes. A Penha, entretanto, guarda ainda vários monumentos de sua história: igrejas, a ladeira da Penha, o prédio onde funcionava o cinema São Geraldo, o Conservatório João Paulo 2º, ruas e praças que levam nomes de personagens importantes do bairro como Maria Carlota - moradora que muito investiu no bairro nos seus primórdios - e Dona Micaela - famosa negra vendedora de doces da virada do século.




Penha Rock - A Revolução Cultural 
por Adriano Pacianotto 

Sou  morador da Penha há 36 anos, e a história contada acima ouço desde criança. Sou fruto da geração que assistiu a degradação do bairro, o fechamento dos cinemas, da biblioteca, do teatro, da casa de cultura, dos pequenos comércios; a derrubada de prédios históricos para dar lugar a especulação imobiliária; os passeios nas praças dando lugar ao entretenimento artificial do Shopping; o abandono de imóveis antigos, somando longos quarteirões de "cidade fantasma". A Penha se tornou desorganizada, mal iluminada, suja e deteriorada; nenhum representante público olha para o bairro, e estendem-se "currais eleitorais" que mantém no poder gente incompetente e corrupta. Conseguir promover arte e cultura por aqui é quase impossível. Quase nenhuma instituição tem interesse; os "poderosos" estão mais preocupados com seus conchavos e status de "elite" do que com os direitos e interesses da população mais pobre.

Saindo da história tradicional e caindo na história do rock underground, o bairro já foi cenário de grande agitação, dos anos 80 ao início dos 2000, sediando casas noturnas e bares bastante representativos: Piarata Bar, Revolution, Sound Factory, Alternative Vídeo Bar, Plastic Alternative Bar, Arkhan Asylum, Penha Rock Bar, Electroshock Pub, etc.; porém, as dificuldades impostas pelos órgãos administradores praticamente extinguiram o fomento cultural no bairro.

Diante de tais condições, em contrapartida ao grande número de artistas, bandas e afins, à nós, produtores culturais, restou apenas a iniciativa independente. O Estado nos ignora, assim como a grande maioria das instituições; por conta disso resolvi lutar pelo direito de uso dos espaços públicos da região. Assim surgiu o Projeto Penha Rock, que tem como objetivo reunir e conscientizar as bandas independentes da força transformadora que elas tem.

A viabilização do projeto se deu pelo apoio do comerciante e agitador cultural Mauro Inácio, da Renovação Catótica Carismática, da Feira Artesanal do Largo do Rosário e da Subprefeitura Penha, e essa é a prova de que alguns indivíduos bem intencionados são capazes de fazer mil vezes mais do que toda a corja aglomerada em torno das tetas do Sistema.

Conseguir autorização e algum apoio para a realização de eventos públicos não passa de uma pequena batalha ganha, ficando o sucesso da iniciativa a cargo da adesão popular e do comparecimento em massa daqueles que acreditam que esse tipo de ação pode ser capaz de melhorar o bem-estar comum e, consequentemente, contribuir para a revitalização da Penha.

Interessados em participar, colaborar e promover a iniciativa entrem em contato pelo e-mail projetopenharock@gmail.com ou acessem o blog penharock.blogspot.com para maiores informações.

Na LUTA!

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