Há tempos venho demonstrando minha insatisfação com a cena independente nacional, em especial com a noite underground paulistana e com o cenário de novas bandas de rock. Também vinha anunciando meu total afastamento como organizador de eventos e DJ de música alternativa. Finalmente a agenda zerou, os últimos compromissos com a "cena" foram cumpridos. Minha parte está feita. Foram praticamente 20 anos dedicados à valorização da cultura e à abertura de espaço para todo tipo de arte maldita, mas infelizmente a realidade é outra: o cenário alternativo deixou de ser alternativo e virou "hype do momento". Não tenho saco pra isso.
Nunca fui DJ/produtor por vontade ou vocação (ou pelo menos nunca quis ser), na realidade foi por dinheiro (dinheiro?), pois sou poeta e escritor por essência (e isso é praticamente uma sentença de morte financeira). As festas e shows, pelo menos, garantiam a sobrevivência e abriam espaço para minha arte. Mas um dia tudo mudou, a arte deu lugar à mediocridade: nada é produzido, tudo é copiado (e mal copiado); o DJ se tornou figura dispensável, podendo facilmente ser substituído por um boneco-de-posto e uma seleção pronta de hits manjados, e ainda perdeu, em grau de importância, para o traficante. A cena alternativa já foi referencial de ousadia e criatividade: o berço da contra-cultura. Já foi! Por isso parabenizo os poucos que resistem (bandas, artistas e agitadores culturais - vocês sabem muito bem quem são, meus amigos), e a vocês (só a vocês) ofereço sempre o meu apoio.
Estive doente nos últimos tempos, nada tão grave, mas tomei um bom chacoalhão, e isso foi fundamental nas minhas decisões. Estou me recuperando ainda, tenho muito trabalho acumulado e amigos para visitar. Estou colocando a vida em ordem, recuperando a saúde e o entusiasmo, me dedicando à vida pessoal, à minha Dê (de quem não consigo ficar longe), aos meus escritos e ao meu trabalho com planos de saúde, profissão que exerço há 5 anos, paralelamente aos trabalhos culturais.
Se a "cena" me deu algo de bom? Obviamente. Festas, fama, diversão, respeito, um pequeno público fiel, além de ótimos amigos. O que me pesou foi o sacrifício em vão: um acreditar sincero em algo que já acabou. Sem falar no excesso de trabalho (mal remunerado), responsável por um quadro de estafa interminável. Creio que contribuo muito mais publicando meus versos, meus textos e minhas resenhas sobre novas bandas nacionais que gosto, do que produzindo festivais e festas, já que não restaram muitas pessoas (nem lugares) interessantes nesse meio. Há pouquíssimo interesse ideológico, e a qualidade artística é zero. Também cansei de gente falsa me tratando como Deus só pra entrar de graça na balada, banda horrível pedindo show e groupie com fogo na boceta, querendo pagar de "namoradinha", pois na hora do "perrengue", todos desaparecem. Do fundo da minha alma, eu quero que vocês todos se fodam! Quanto aos meus, a Luta continua, companheiros, só mudou de estratégia.
Bom, este post foi um desabafo e uma satisfação aos que valem a pena. Aos poucos vou retomando meus escritos, publicando aqui e noutros veículos, tudo de acordo com o que o tempo a verba permitirem.
Um grande abraço, leitores e amigos, e um grande FODA-SE pra todo o resto.
Na LUTA!
Adriano Pacianotto
2 comentários:
Parabéns
cara, ótimo texto, a parabens pela dignidade
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