segunda-feira, outubro 11, 2010

Aos 15 anos


Onde erguem aquele prédio havia uma casa velha, mas bem conservada, de cômodos largos, portas pesadas, pisos encerados, e com máquinas de escrever inutilizadas por todos os lados...

Tinha certeza de que o tempo parara ali.

Nessa casa funcionava uma pequena imobiliária, minha função era abrir o estabelecimento às 10 da manhã, alimentar o gato e preencher recibos. O gato se chamava Nino, um vira-latas que costumava encrencar com os outros bichanos da vizinhança, e comumente gerava reclamações das "senhorinhas de cabelo roxo" que tinham gatinhos com lacinhos nas orelhas.

O almoço era das 12hs às 14hs, e eu saia às 17:30. A quantidade de trabalho tomava no máximo 2 dias inteiros do mês, e vez ou outra uma hora extra para terminar alguma papelada, o restante se resumia a permanecer sozinho naquela casa antiga e enorme à espera de uma boa alma aparecer no balcão para tornar meu dia mais emocionante, mas raramente alguém aparecia.

Se o trabalho era pouco o salário equivalia, mas era suficiente para manter os copos cheios e os vinis tocando até o fim do mês.

Quando estava inspirado escrevia versos em uma máquina elétrica que até hoje me é sonho de consumo; quando havia tédio passava as tardes tentando acertar as lagartixas na varanda com o velho estilingue feito de elástico, clips e dedos, mas para a sorte delas minha mira era horrível.

Entre os dias 5 e 10 eu tinha de ir diariamente ao banco para depositar o movimento dos aluguéis. Não haviam caixas eletrônicos, mas pelo menos podia-se fumar dentro das agências. Perdia em média uma hora e meia para fazer um depósito, mas não ligava, permanecia todo o tempo de pau duro olhando as funcionárias de "boa presença" passando pra cá e pra lá em seus vestidos apertados...

Era preciso muito pouco para ser feliz aos 15 anos.


Adriano Pacianotto

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