sexta-feira, agosto 20, 2010

Ana visita


Recebi alguns poemas da Ana Valadares, e fiquei impressionado com a qualidade e a força expressiva de seus versos.

Bom, deixe-me apresentá-la: além de se aventurar em devaneios literários, compõe a banda MPB/Rock/Psicodélica Wanda Valadares, emprestando sua bela voz, e dividindo os vocais com o guitarrista Wellington Oliveira e o baixista Raffer Teddy.

As canções da primeira demo, lançada este ano, estão no myspace http://www.myspace.com/wandavaladares

E da pra baixar:
http://www.oinovosom.com.br/wandavaladares
http://www.bandasdegaragem.com.br/wandavaladares

Vamos aos versos.

Na LUTA!
Adriano Pacianotto


O desejo
(Ana Valadares)

Ontem às três da manhã num quarto escuro, desejou cobrir os arredores de gasolina. Ver fogo lambendo o asfalto, os carros, os ratos e os jantares, fazendo-os todos suar. Ver registros, segredos que o mundo provoca e não explica rodeado de um incêndio irremediável, consumindo lento até virar pó ocre, tangível e simples.

Desejou ver o fogo dançando ao redor da cidade. E vê-lo fazê-la explodir e se esvair em fumaça. Era uma metáfora do quanto estava inflamada por dentro.

E viu que não precisava atear fogo à cidade. A nada. Depois de macaco pra homem, a próxima metamorfose era daqui ao pó. Aquele mesmo: ocre, tangível, simples.

Eram as coisas que caminhavam em direção ao fogo, que brincava só e infante, sem incomodar.

Foi ela quem desejou o incêndio. Foi ela quem o trouxe. Do mesmo modo que é a cidade que caminha em direção à ele, independente de desejos temperados à conhaque.

Apagou a brasa inofensiva do cigarro, matou o último gole [não havia mais gelo] e entregou o corpo ao sofá,de modo que apagou profundamente, sem tirar os sapatos.


O grito
(Ana Valadares)

Deve-se conter o grito,
uma vez concluído e pronto, feito em mim?
Deve-se concluir este canto obrigatório?

(No centro do corpo, antes, o grito se elabora.)

Me calo.
Gritar pra quê?
O grito é apenas um arco breve
que se propaga e morre,
pra fora de mim.


Vereda da dispersão onde triunfa o mal num impasse de subjetivismo e realidade
(Ana Valadares)

Pudera
Talvez a morte
Sempre estivera
Em forma de bicho
Medusa, Saci ou Quimera

Por trás da mente cerrada
habita
Por trás do hálito doce
habita
Por trás de um único corpo
habita
duas faces
duas mortes
ou duas vidas

Maçãs
No rosto corado
o susto
o grito
Erroneamente
Pairando defronte
a apatia
a hepatite
a encefalite
o medo

Em porte
Em ar galanteador
Em terno
preto e branco
É o diabo
sorrindo
suave
E numa fração de segundos
gargalha
gargalha
gargalha

1 comentários:

Anônimo disse...

Ana,
Parabens, ótimas sacadas, não sou entendedor do assunto de poesia, mas o que li, gostei. Não vou falar que gostei bastante pois não são poesias de amor, e sim dizer que suas palavras acendem a fagulha que não aceita o conformismo.
Gostaria de ler mais.
beijos..

counter
counter
 
Copyright 2009 Adriano Pacianotto. Powered by Blogger Blogger Templates create by Deluxe Templates. WP by Masterplan