terça-feira, julho 13, 2010
Só Cuida Do Meu Gato…
Bom, hoje não deu tempo de atualizar esta joça, tenho uma matéria sobre o Boobarellas e uma sobre o Sarau Com Álcool pra publicar, fora alguns poemas perdidos que estou pensando em jogar aqui também, mas a correria e os problemas técnicos não deixaram, enfim... vai um poema do Nenê que vale mais que dez post meus. Acabei de pegar no Blog dele http://nenealtro.wordpress.com/ e estou pensando aqui: será que ele realmente fez isso de verdade, porque, vindo dele, nada é ficção hahahaha Acho que vou ligar lá no Wlad mais tarde pra saber hehe
Amanhã eu volto.
Na LUTA!
Adriano Pacianotto
Só Cuida Do Meu Gato…
(Nene Altro)
Ela me disse:
Fica aqui,
bebe o que quiser,
assiste o que quiser,
só cuida do meu gato.
Faz festa,
traz mulher,
vomita no banheiro,
só cuida do meu gato.
Abro a porta.
Uma casa familiar em que nunca estive antes.
O gato me estranha a princípio
mas depois se esfrega em minhas pernas.
Vamos nos dar bem, eu penso.
Troco sua comida,
sua água,
sua caixa de areia.
Todo ritual.
O gato se esbalda.
Abro a geladeira cheia de cervejas.
Pego uma e sento no sofá.
O gato me observa com cara de “você é o tal filho da puta”.
Não deve gostar muito das coisas que escrevo…
Coloco um disco,
abro a janela,
me espreguiço
e o gato pula.
(…)
Vinte e cinco andares.
Putaqueopariu.
Olho lá pra baixo.
Um pontinho vermelho no asfalto sujo.
O que faço agora?
Sento.
Bebo a cerveja.
O que faço agora?
Anoitece.
Amanhã ela vai ligar e vai perguntar “Como está o gato?”.
E o que eu digo?
Que coloquei um Joy Division e foi demais pra ele?
Merda.
Aí reparo que em toda casa tem detalhes de gatinhos.
Xícaras de gatinhos.
Fotos de gatinhos.
Porta chaves de gatinhos.
Pronto… matei o dono da casa.
E a hora não passa.
A mesa se enche de latas vazias.
Olho pela janela de cinco em cinco minutos
pra ver se Church volta do Pet Sematary.
De repente uma luz.
“Vou amanhã no abrigo, pego um gato igual,
coloco no lugar e a delícia nunca vai saber!”
Perfeito.
Como não pensei nisso antes?
Termino a última lata e durmo o sono dos justos.
Pela manhã cruzo a cidade
e volto com “Church II – A Missão” nos braços.
Um novo gato,
igualzinho,
tranquilo,
explorando cada centímetro do apartamento
que nem a gente experimenta roupa de defunto nos brechós.
Infelicidade de uns, felicidade de outros.
Coloco Never Mind The Bollocks.
Original em vinil.
O Inglês mesmo.
Cacete.
O que tinha lançado aqui sequer tinha encarte.
Vou até a cozinha pegar uma cerveja e percebo que havia tomado tudo.
Tsc…
O gato roça minha perna.
Coloco comida pra ele e ele ataca como se não visse comida
desde a última ajuda humanitária da ONU.
Dou um sorriso.
Até que é simpático.
Deixo ele comendo, fecho a porta e vou ao mercado.
Três packs de cerveja pra gelar
e uma Heineken verdinha
bem gelada
pra sentar um pouco na praça
e olhar as pessoas andando com pressa pelas ruas.
São Paulo né?
Todo mundo correndo atrás de alguma coisa o tempo todo.
Como eu essa manhã.
Cruzando de um extremo ao outro atrás de um gato.
(…)
Me sinto melhor.
Resolvi o problema do gato.
Todo gato preto é igual.
Depois de amanhã ela chega, ama o gato,
me agradece, e continuo sendo o herói dela.
Perfeito.
Volto pro apartamento.
Um gelo me toma as canelas.
(…)
Tudo de ponta cabeça.
Louça quebrada, sofá rasgado, revistas picotadas.
O gato era o Pinhead.
Inferno na terra.
Da casa toda ajeitadinha só restou um squat porco alemão.
Sento no sofá, abro uma cerveja quente
e tento digerir toda aquela loucura.
Tenho que limpar toda essa porra
senão a delícia nunca mais vai olhar na minha cara.
E, o pior, todo meu cortejo de meses vai morrer na praia.
Não vou ser herói nem da última gordinha gótica bêbada
com crucifixo gigante no pescoço e camiseta do HIM
no fim de balada do Madame Satã.
O gato vem.
Roça minha perna.
Coitado…
Não é culpa dele.
Até eu mesmo já quebrei muita coisa nessa vida.
Mas porra, não imaginava que meu Mogwai ia virar Gremlin tão rápido!
Deixa pra lá…
Um gole na cerveja mais horrível de minha vida
pra pensar por onde começo a limpar essa joça.
É quando eu vejo na vitrola o vinil original do Bollocks todo riscado e cheio de marcas de patas.
A saliva desce seca.
É quando eu vejo a capa no chão toda mijada e suja.
Maldito gato progressivo filhodumaputa!!!
Então eu pego outra cerveja quente,
coloco o cd do Joy no talo e deixo a janela aberta.
Bem aberta.
Tranco a porta e foda-se.
(…)
“E aí amor, tudo bem?”
Tudo.
“E o gatinho, tá te incomodando?”
Na verdade ele teve um pequeno problema.
“Ai meu deus, o que aconteceu com meu gatinho?”
Não deu certo na primeira vida como crítico literário
e resolveu ser crítico musical.
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